Menino de olho verde
Um menino caminha em meus sonhos
Seus passos e meus passos se comunicam em
uma sincronia que desenha a dança celeste
dos pés e dos astros
da espuma e dos traços dos corpos cadentes
Baila sem tempo
Vence o tédio, o ódio, o medo
transpõe o espaço
dissolve a entropia, a calma
Nos meus sonhos, o menino me envolve os braços n'um abraço azul, quente e macio
De algodão e selo d'água
Suas esmeraldas que fitam o mundo me fitam como quem compreende a alma, deifica o encontro e concebe o Uno.
O menino brinca e corre na alvorada dos meus sonhos
E ao crepúsculo toma uma cadeira de balanço para si
e ao seu lado repousa outra para mim.
Seus dedos, com as rugas do tecer do tempo, ancião navegante
Me apontam as cores do mundo
Os cinzas do mundo
As campanhas e campinas. As campânulas e sinos. As sombras das formas e o canto das calandras-vendavais.
Me apontam os cantos quadrados, esféricos e vazios, os horizontes sem-fim e o horizonte do fim do mundo.
Quando deixo o sono e em outro sonho levanto em vigília, o menino não tem forma.
Meus ombros descalços escrevem um poema solitário:
seus versos todos são ondas que emergem em fila indiana, uma a uma, de todos os rabiscos oníricos que o balanço dos dedos do menino manifesta
e que agora
e que Sempre
Sou Eu.
(Há algumas semanas, ou dias, ou vidas
o menino [este algum Eu, dentre todo o Eu], me não tem visitado.
Talvez ele esteja cochilando na rede do eterno).