Menino de olho verde

Um menino caminha em meus sonhos

Seus passos e meus passos se comunicam em

uma sincronia que desenha a dança celeste

dos pés e dos astros

da espuma e dos traços dos corpos cadentes

Baila sem tempo

Vence o tédio, o ódio, o medo

transpõe o espaço

dissolve a entropia, a calma

Nos meus sonhos, o menino me envolve os braços n'um abraço azul, quente e macio

De algodão e selo d'água

Suas esmeraldas que fitam o mundo me fitam como quem compreende a alma, deifica o encontro e concebe o Uno.

O menino brinca e corre na alvorada dos meus sonhos

E ao crepúsculo toma uma cadeira de balanço para si

e ao seu lado repousa outra para mim.

Seus dedos, com as rugas do tecer do tempo, ancião navegante

Me apontam as cores do mundo

Os cinzas do mundo

As campanhas e campinas. As campânulas e sinos. As sombras das formas e o canto das calandras-vendavais.

Me apontam os cantos quadrados, esféricos e vazios, os horizontes sem-fim e o horizonte do fim do mundo.

Quando deixo o sono e em outro sonho levanto em vigília, o menino não tem forma.

Meus ombros descalços escrevem um poema solitário:

seus versos todos são ondas que emergem em fila indiana, uma a uma, de todos os rabiscos oníricos que o balanço dos dedos do menino manifesta

e que agora

e que Sempre

Sou Eu.

(Há algumas semanas, ou dias, ou vidas

o menino [este algum Eu, dentre todo o Eu], me não tem visitado.

Talvez ele esteja cochilando na rede do eterno).

Nicolle Ramponi
Enviado por Nicolle Ramponi em 19/08/2019
Reeditado em 10/08/2021
Código do texto: T6724319
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