SOZINHO

Quem sou eu em frente a tantos espelhos?

Olhos que refletem um ser que não é?

Que não está em si mesmo?

Que persevera apenas nas sentenças perdidas?

Quem realmente sou eu,

Andando pelo mundo, desconhecido,

Sem o alimento definitivo da insensatez

Que marca as pessoas verdadeiras?

Só o meu pensamento sabe presenciar as coisas

Como se tudo estivesse fluindo em imagens

Ou em temporais de ideias fixas

Feito um campo aberto de miragens e dor

Ou um revés de todos os nadas

Falo sem saber, como quem espera respostas

Impossíveis.

Definitivas.

Vereis, estou do lado de todos

Todos, menos os que não podem me amar

Nem sentem que perderam muito tempo

Ainda assim imaginam os rostos que olham

Como se olhassem apenas máscaras

Eis o real que imaginamos

Mas se apenas imaginamos não pode ser real

É tão só imaginação

Sou o companheiro definitivo de todos os anjos

Não porque saiba querer ou pense em mudar

Mas porque já sonhei tanto com todas as coisas

E elas foram caminhando para o silêncio

Talvez o medo nos impedisse de buscar

Por céus azuis e nuncas não ditos

Vou amando as coisas como quem amanhece

Com a janela aberta para o verde bosque

O céu é azul, mas não há lembrança

Só o gosto de todas as palavras que eu pensei dizer

Andar sozinho, estar sozinho, viver sozinho

Faz parte daqueles que não sabem pensar

Não cabe a mim, querer estar só

Pois meu pensamento nunca me abandona

Nem mesmo quando a noite chega e escurece tudo

Nem mesmo quando as respostas negativas

Fazem meu sorriso evaporar-se

Nem mesmo quando a minha boca não consegue

Chegar a dela, nem mesmo...

Não há dúvida que a solidão

É uma coisa da mente das pessoas

Não é física como a presença

Ninguém está só quando não sente falta de nada

Eis o maior de todos os segredos

Não deixar que as coisas façam falta

Nem que a saudade surpreenda os olhos

A ponto de fazê-los chorar

De repente.

João Barros
Enviado por João Barros em 19/08/2019
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