Cicatrizando
Devagar
Vagar, estar
Contando os dias
De minha reunião com as raízes
tão profundas tanto essas fissuras
Rastejando como veias em meu braço
Cicatrizes nunca mais me deixarão
Faço com o olhar o percurso de um rio
Que de tão rubro coloria meus dias
Sem cor alguma, eram cinza
Como as cinzas restantes mortais
De árvores e corpos queimados
Sem vida.
A dor me convidava, com gracejos
Prometera-me zelo e companhia sem fim
E deram-me.
É ela um elixir de magnitude viciante
O contento firma agora um pacto
Que não seja mais, nunca mais a fonte minha de sorrir
Pois agora se a fase me quer bem, quererá a vida também?
Sou as partes do eu nas estrelas
Olho um mar e nado com a alma
pois resisto em sentir algo que me valha
Momentos de literal paz.
Mas, sou um livro de histórias que não se acabam
Escrito por mãos que não as minhas são
Mas sussurros de um lugar não tão distante
Querem dizer-me em brandos agrados
Afagar meu inefável mérito
Ante outra sedução própria
De ontem as mesmas nefastas retóricas
Ao longe meu ego não existe
Odeio-me tanto quanto me machuco
Mas quero ser feliz também
Sinto
Que deixei dada a lição máter
O coração suscita as batidas
Meados de agosto, invernal momento
Veronis pairagens ao lugar secreto
Me acho durante uma minha tormenta
E escondo-me nas rochas imaginárias
Rochosos monumentos de estátuas como eu
Um busto condecorado com flores mortas
E ainda não parti?
Se pressinto as dores de novo
A cada arfada os pulmões me falham
Eu alcanço as gaivotas e nelas caio
Pois os pesos de meus sentires pesam-me a mão dia e noite e noites infindas
Agora dê-me cartas
Caras à parte manipulam-te
E nas encostas e precipícios paro e namoro o mar
Deixo-me outra cicatriz à vista
Esta em minha perna esquerda
E cubro-a de lágrimas
Rubras, esguias, falta-me algo
Excedeu-se tanto
Que delas furto os metros
E deixo-me cair tão profundo
na mais sadia viagem dentro de mim.