ESCREVER

No princípio falta o verbo

Falta o fôlego e o substantivo

Depois, a imaginação,

O desenvolvimento cognitivo

Após isso, vem o sentimento de culpa.

Vem a tristeza e a decepção

Você fala que não é criativo

Diz que não aprendeu a lição

Ao contrário de muitos,

Felicidade, paisagens bonitas,

Amor verdadeiro, eclipse lunar,

Não te motivam a escrever

Não te permitem voar

Às vezes até encontra música

Mas foge a harmonia

Falta sintonia, melodia, alegria,

Sobra apenas melancolia

Você vai à loucura

Quando sua mãe

Aquela doce criatura

Sem ter o que fazer

Começa a dizer:

Eu te falei, eu te falei.

Não quer estudar

Bem que eu avisei

Só pensa em brincar.

Só quer saber de facebook

Manzape, whatsapp

Com a tarefa vem o susto,

A dúvida de por onde começar

Passa tudo em segundos

O calafrio é de arrepiar

Há uma gritaria mental

Desarranjo intestinal

Você chega a passar mal

Deus! O que fazer?

Como escrever bem,

Se inspiração não se tem?

Deite o coração no papel

Pegue a caneta e o borrão

Esqueça o que os outros pensam

Liberte-se das amarras e da razão

Tranque-se num local tranquilo

Acenda a luz da imaginação

Deixe de lado a sofisticação

O local pode até ser um cubículo

Desde que você

Não tenha medo de ser ridículo

Abra seu coração e sua mente

Diga apenas o que sente

Se os outros rirem de você

Só há uma coisa a fazer

Releve a ignorância

Pratique a tolerância

Pegue a caneta e o papel

Esqueça aquele fel

E recomece a escrever.

Escrever é organizar a babel

É trabalho braçal

É deixar de ser boçal

É dar asas ao sonho

É desistir de ser tristonho

É moer pedras, é derreter aço.

É ser erudito e também ser palhaço

É voltar a ser criança

É se encher de esperança

É esquecer a dor, é lembrar-se do amor.

É pensar nas lavadeiras, na mulher carpideira.

É raio de sol, é peixe no anzol.

É talhar a palavra à Machado.

É sentimento machucado

É compreender o universo individual

É descobrir o segredo da pedra filosofal

É encontrar-se consigo mesmo

É não remar a esmo

É leitura demasiada

É não ter receio de virar piada

É compartilhar conhecimento e não ser egoísta,

É multiplicar a informação e ser altruísta

É eternizar um momento efêmero

É produzir entusiasmo aurífero

É colocar ideias onde antes não tinha

É espalhar alegria que só você detinha

É descobrir a paz interior

É brincar de ser ator

É não ter cantos escuros

É derrubar todos os muros.

É olvidar de proibir, é nunca desistir.

É dormir na tapera e acordar na Citera.

É fomentar ideias, é formar opinião.

É gerar dúvida, é desenvolver a imaginação.

É voltar para o futuro

É ser infantil sem ser imaturo

É cansativo como escalar os maciços alpes.

É enxergar longe com olhos míopes

É a transmutação do pensamento no código

É tergiversar diante do conceito lógico

É fechar os olhos e deitar na leveza

É crer que na imperfeição há beleza

É expor defeito reprimido no peito

É assimilar apenas uma lição

É deixar fluir toda emoção

E parar de dizer: não consigo escrever.

Alber Liberato Escritor
Enviado por Alber Liberato Escritor em 17/08/2019
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