O MÁGICO
Já não me importo com a verdade, nem sei o que ela significa
Se uma carta de baralho que sobrou do truque que não deu certo
Ou se o próprio truque, com sua ilusão, seu fascínio
Fiz-me escravo de tantas injúrias e me perdi inconsciente e sóbrio
Amando o jogo esplêndido dos acontecimentos
Fui o aprendiz que viveu os inícios, para, finalmente, ser o melhor jogador
Ofereço o poema:
Àqueles que festejam
E aos que perderam a guerra imprópria
Às meninas que amam, mesmo que futilmente
Aos vaidosos, que não saem sem um espelho no bolso
Aos invejosos, que amam tudo o que não têm
Aos loucos que vendem suas almas no comércio
Ou em qualquer parte
Aos infelizes, que não gostam do simples
Aos simplistas, que pensam só em coisas pequenas
E sonham com a mediocridade
Àqueles que perdem tempo nos pontos de ônibus
Àqueles que pedem esmolas nos pontos da cidade
Àqueles que choram por motivos tolos e tragédias inevitáveis
Aos pais que perderam seus filhos, e aos filhos órfãos de amor
Aos espíritos, que vagam pela boca dos que acreditam
Àqueles que amam a saudade e não a presença da amada
Àqueles que temem a morte, mas não vivem plenamente
Àqueles que adoram as imagens e ajoelham-se em frente aos altares
Aos que amanheceram e não tinham planos para o dia
Aos que acordaram e viram, decepcionados, que ainda era noite
Aos anjos, que vivem no tempo e na eternidade dos sonhos
Àqueles que perderam a voz em frente à menina mais linda da rua
E deixaram seu sorriso ecoar sozinho pela solidão
Àqueles que se esquecem de ouvir a música na boca das mulheres do mundo
Àqueles que, sem esperar, conseguem a vitória merecida
Àqueles que aprendem as lições que a vida ensina
Aos poetas, que desejam a mágica que todos conhecem
Àqueles que deixam de ser a carta do truque e tornam-se, enfim, o mágico.