O MÁGICO

Já não me importo com a verdade, nem sei o que ela significa

Se uma carta de baralho que sobrou do truque que não deu certo

Ou se o próprio truque, com sua ilusão, seu fascínio

Fiz-me escravo de tantas injúrias e me perdi inconsciente e sóbrio

Amando o jogo esplêndido dos acontecimentos

Fui o aprendiz que viveu os inícios, para, finalmente, ser o melhor jogador

Ofereço o poema:

Àqueles que festejam

E aos que perderam a guerra imprópria

Às meninas que amam, mesmo que futilmente

Aos vaidosos, que não saem sem um espelho no bolso

Aos invejosos, que amam tudo o que não têm

Aos loucos que vendem suas almas no comércio

Ou em qualquer parte

Aos infelizes, que não gostam do simples

Aos simplistas, que pensam só em coisas pequenas

E sonham com a mediocridade

Àqueles que perdem tempo nos pontos de ônibus

Àqueles que pedem esmolas nos pontos da cidade

Àqueles que choram por motivos tolos e tragédias inevitáveis

Aos pais que perderam seus filhos, e aos filhos órfãos de amor

Aos espíritos, que vagam pela boca dos que acreditam

Àqueles que amam a saudade e não a presença da amada

Àqueles que temem a morte, mas não vivem plenamente

Àqueles que adoram as imagens e ajoelham-se em frente aos altares

Aos que amanheceram e não tinham planos para o dia

Aos que acordaram e viram, decepcionados, que ainda era noite

Aos anjos, que vivem no tempo e na eternidade dos sonhos

Àqueles que perderam a voz em frente à menina mais linda da rua

E deixaram seu sorriso ecoar sozinho pela solidão

Àqueles que se esquecem de ouvir a música na boca das mulheres do mundo

Àqueles que, sem esperar, conseguem a vitória merecida

Àqueles que aprendem as lições que a vida ensina

Aos poetas, que desejam a mágica que todos conhecem

Àqueles que deixam de ser a carta do truque e tornam-se, enfim, o mágico.

João Barros
Enviado por João Barros em 16/08/2019
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