A CASA NO ESCURO

                    Republicação – Poema escrito em 1983
 



Vieste de longe
buscar-me?
Estás distraído
esqueceste?
 

Por que tantas armas
há guerra?
Estou desarmada
me queres?
 

Há riso e tormento
oscilas?
O brilho em meu corpo
te assusta?
 

Há medo e amor
te evades?
O perto e o distante
confundes?
 

Teu ontem, teu hoje
não sabes?
Teu rumo, teu sonho
pressentes?
 

São tantas perguntas
te cansas?
Não tenho respostas
aceitas?
 

A casa no escuro
conheces?
Há portas fechadas.
Tens chaves?
 
 

 
Do livro ESPELHOS EM FUGA, Editora Objetiva, 1989.


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   A FLAUTA

(Poema de 08 de março de 2012)    
                       



A flauta funda
fértil fauno
a fecundar ninfas
a fecundar fábulas
fontes a jorrar
nadas nuncas.
A flauta é funda.


Nadas nuncas
que a flauta funda
feudos
flâmulas
feridas a jorrar
formas fatídicas.
A flauta é funda


a forjar forjas
ferozes fendas
fronteiras filigranas
a fulgir, a jorrar
na funda flauta
informes formas
nadas nuncas


nadas nuncas
na funda flauta
fundidas faces
falo febre fogo
sêmen dos segundos...
sêmen dos silêncios...
sêmen... deuses assassinados.