DOS INSTINTOS
Para saber o que digo, escuta
Leia atentamente o meu olhar
E pensa no que ele exprime
A respeito do mundo
Tudo o que está ao meu alcance
Eu compreendo com a alma
E me sinto penalizado
Com a falta de esperança
Que se desenha em cada rosto
Dias se seguem sem rumo
Nossos passos espreitam o tempo
A velhice surpreende nossos corpos
E sinais se mostram no espelho
Na manhã de todos os dias
A morte sucumbe ao silêncio
E à ideia da eternidade
Acho que é loucura
A sensatez e os modos sociais
Sinto friamente o desassossego
De um olhar mais meigo e doce
Que não se parece com mais nada
Nem mesmo com uma imagem desenhada
No muro do tempo e da memória
Mas o amor implica outra sorte
De quem fala sem ouvir o que espera
E gosta sem saber do que deseja
Numa noite o frio basta
Para completar a solidão
Meu semblante é o supremo intuito
Ou o eterno instinto de sentir
Mas sabe-se enfim
Que sem surpresas a vida toda
Não existe ou nunca existirá
Leia simplesmente o meu olhar
Escuta, para saber o que digo
Mas abre ainda mais o coração
E deixa as palavras entrarem
Friamente, sem surpresas, deixa
Que a noite saberá sem outro modo
Esconder ou dizer a verdade.