DOS INSTINTOS

Para saber o que digo, escuta

Leia atentamente o meu olhar

E pensa no que ele exprime

A respeito do mundo

Tudo o que está ao meu alcance

Eu compreendo com a alma

E me sinto penalizado

Com a falta de esperança

Que se desenha em cada rosto

Dias se seguem sem rumo

Nossos passos espreitam o tempo

A velhice surpreende nossos corpos

E sinais se mostram no espelho

Na manhã de todos os dias

A morte sucumbe ao silêncio

E à ideia da eternidade

Acho que é loucura

A sensatez e os modos sociais

Sinto friamente o desassossego

De um olhar mais meigo e doce

Que não se parece com mais nada

Nem mesmo com uma imagem desenhada

No muro do tempo e da memória

Mas o amor implica outra sorte

De quem fala sem ouvir o que espera

E gosta sem saber do que deseja

Numa noite o frio basta

Para completar a solidão

Meu semblante é o supremo intuito

Ou o eterno instinto de sentir

Mas sabe-se enfim

Que sem surpresas a vida toda

Não existe ou nunca existirá

Leia simplesmente o meu olhar

Escuta, para saber o que digo

Mas abre ainda mais o coração

E deixa as palavras entrarem

Friamente, sem surpresas, deixa

Que a noite saberá sem outro modo

Esconder ou dizer a verdade.

João Barros
Enviado por João Barros em 15/08/2019
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