CORAÇÃO DESANUVIADO
Meu coração quando fraqueja
vira grão sem dono
vira palavra sem razão.
Nessas horas perde o rumo
deriva num vão infinito
esquece a casa, o chão.
Que coração desanuviado
embebido de sombras, de medos,
esquece de nutrir sua alma
morre ao cerzir seu destino.
Mas é coração rebelde
não aceita coleira, repele o podre.
quer chutar longe cada feitor.
Então rompe a casca
expande as garras até o céu
esgarça a corda sem pedir licença
descabela o mundo todo num trovão.
Daí aquele coração minguado
de andar arredio, sorriso nublado,
vira rei, vira Deus, vira o ar
esmigalha todo lastro doentio
desencarde a voz rouca de uma vez.
É assim que me tenho agora
desnudo de farsas, de rasgos,
cicatrizado como sempre lutei
agigantado como tanto quis
abençoado como tinha que ser.