Eu em Porto Alegre
Em Porto Alegre
hoje faz uma manhã de sol
e as pessoas estão mais leves
despidas de um emaranhado de roupas
que se fazia armadura contra o frio.
Quintana espreita em toda parte
e parece materializado
em velhinhos simpáticos
que tomam sol no banco das praças
ou que se debulham em animadas conversas
em igualmente animados cafés
Atravesso Porto Alegre incógnito
ninguém sabe de mim, e nem precisa
sou apenas um cara metido a poeta
que veio de um lugar distante
e vai obstinadamente se agarrando
a grandes coisas
que os homens apressados não vêem
Uma orquídea na árvore em frente a Assembléia Legislativa
dança e insinua-se em cores vivas
para seres robóticos empertigados
em ternos e outros caros penduricalhos.
No saguão do hotel em que me acho
pessoas acertam contas, carregam malas
chegam e partem num gesto repetido e monocromático
enquanto vou escrevendo essas mal traçadas linhas.
Lá em cima, meus amigos de viagem ainda dormem
emquanto me preparo para ir ao mercado
encontrar pessoas humanas e verdadeiras.
Nos mercados pessoas florecem
e eu me acho.