Neurastenia
Tão magro que nem me reconheço,
amaldiçoo a carcaça dançante no espelho
que ao desfazer-me se recusa a estilhaçar
por entre meus insultos, cusparadas e socos.
Não, ele está sempre lá,
a refletir este desgosto encarnado
de semblante febril e sempre cansado,
como se a sentir a vida esvaindo do peito rasgado.
A fome? Mata-se com um cigarro.
A angústia com risos banhados em álcool
e a solidão... A solidão, é, a solidão...
Quando foi que me tornei tão amigável às propagandas?
Sempre as detestei.
Tão magro que nem me reconheço... Já citei os comprimidos?
Ah, sim, são sim uma merda,
porém evitam que torne-me pra alguém mais uma perda.
Faz-me lembrar dum choro; um em especial,
naquele que ficou pra sempre marcado como local
de nossos tantos diálogos e prantos.
“Se você morrer, minha vida será como um pesadelo
do qual nunca conseguirei acordar”,
disse-me ela há uns dois anos. E eis-me aqui,
em bem-estar teatral, numa vida cancelada com apreço...
Parando para olhar, estou tão magro, que nem me reconheço.