Neurastenia

Tão magro que nem me reconheço,

amaldiçoo a carcaça dançante no espelho

que ao desfazer-me se recusa a estilhaçar

por entre meus insultos, cusparadas e socos.

Não, ele está sempre lá,

a refletir este desgosto encarnado

de semblante febril e sempre cansado,

como se a sentir a vida esvaindo do peito rasgado.

A fome? Mata-se com um cigarro.

A angústia com risos banhados em álcool

e a solidão... A solidão, é, a solidão...

Quando foi que me tornei tão amigável às propagandas?

Sempre as detestei.

Tão magro que nem me reconheço... Já citei os comprimidos?

Ah, sim, são sim uma merda,

porém evitam que torne-me pra alguém mais uma perda.

Faz-me lembrar dum choro; um em especial,

naquele que ficou pra sempre marcado como local

de nossos tantos diálogos e prantos.

“Se você morrer, minha vida será como um pesadelo

do qual nunca conseguirei acordar”,

disse-me ela há uns dois anos. E eis-me aqui,

em bem-estar teatral, numa vida cancelada com apreço...

Parando para olhar, estou tão magro, que nem me reconheço.

Vinícius Alvarenga
Enviado por Vinícius Alvarenga em 11/08/2019
Código do texto: T6717997
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