Trimúrti
Não há tempo para o descanso,
porque o temor existe.
Agarro-me à existência, por vezes.
Agarro-me ao bote, tristemente,
porque não larguei o porto, e temo o mar
e não solto o bote por medo de perdê-lo às dimensões.
Prendo-me com as unhas à pelugem do gato
e às penas das aves e avanço e corro e fujo,
porque engulo o tempo com o mesmo desgosto com que o gato procria,
e o mesmo desgosto da ave que é engolida pelo gato.
Transmutei-me, por natureza – por princípio hormonal
Na aberração da gula:
Um ídolo aborígene de três cabeças, sem piedade ou apego,
sem realizações e sem corporalidade,
uma deformidade espaço-temporal nascida da conveniência
e forjada pela seleção,
cujo intento único é perseguir a flecha de eventos
que guia os corpos celestes à atemporalidade
e a ave ao gato; e o gato ao coito, e o coito à morte.