Não levo nada...
Nada levo comigo, que possa partilhar...
Levo só no meu pensamento...
Pois em mim, a cada momento
surge uma fortuna ou uma miséria para guardar...
Gavetas cheias, a abarrotar
tenho eu nas ideias, que estão sempre a brotar...
Tanta coisa me persegue
sem um fim que eu possa descortinar
pois nem sempre se consegue
sorrir por fora, tendo a alma a sangrar...
As minhas mãos procuram mãos que não estão
mãos que nunca estiveram, tendo a obrigação de estar...
Há em mim um chicote de opinião
que não me dá tréguas na sua ânsia de estalar...
Nada levo nas mãos, pois o meu destino é dar...
Levo só na alma, que é uma mãe imensa
que se ri sozinha no seu esforço de não chorar
e me dá o calor, que de certa forma me compensa...
Sei que um dia, tudo se resolve
pois de eterno, só tenho o tempo que tenho...
Que é o Deus que tudo envolve
No sopro final da respiração que sustenho!