SIM
para Juliana Silva
Eu disse sim
Retrocedi
O tiro veio direto
Vi minha amiga cair
Outro estrondo
Mais uma, logo ali
Continuei
Eu disse que sim
Tentei firmar o passo
Estou meio lenta, eu sei
Mas disse sim
Um clarão
A nuvem sobe, acho que esse foi de canhão
O estrondo me deixou meio surda
Esse zunido alto dentro do tímpano
Eu disse sim
Estilhaços no meu peito
Sangro
Aberta
Anônima
Enquanto coisa sem nome infértil
Sou mais um corpo, eu sei
Eu disse sim
Outro tiro, dessa vez veio com o nome
Ela caiu do meu lado
Mas vou carregá-la, o quanto eu conseguir
“Ninguém vai ficar pelo caminho!”
Eu disse sim
Estou vendo o sinal
O laser no meu peito
É agora? O tiro de misericórdia?
– Não.
Aguenta mais um pouco
Então, eu disse sim…
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Publicado na Revista Literatura&Fechadura
em 24 de julho de 2020