Poema de sete braços
Intro:
(Sinto; em desafago: afogo no incerto
Sinto muito. Sinto mais que sou.
Mais que a vida?
A vida.
A vida?
Avisa? Quando chegar.
Avista! Quando puder.
Abriga: primeira graça da Mãe)
Ora o abrigo são as paredes e as janelas sem portas de osso e fâneros e tecidos cruentos
Às vezes: o éter.
As sinapses da memória e tênue ausência de estar
Ora n'a rede mental habito como dedos desvairados ansiosos por deixar a luva pelo fundo cego.
Agora?
Estancio n'o banco cinza enquanto olhos nublados assistem ao desfile dos sentimentos ternos e desesperados da substância passional.
Porque ama, a célula ciente da sua senescência e afeita ao afeto da lama e do antraceno?
Porque perde-se o Ser amante na nuvem cadente do tempo?
Dois meses não são dois dias, Carlos. Mas dois dias existem como dois meses e os dias bem podem dissolver em areia que carrega o corpo frio
a mente
A porta que sente
A barbárie
A baba e
o vácuo silente.
O que falta quando transborda
A ira e o medo e
O homem nu cobre-se com linhas e tampona-se as entradas e em seu intragável impulso por gritar o mundo: cala,
e deglute o pó do vento e o sal da terra?
O que pode uma criatura
Dentre todas as criaturas
Fazer com
sua ânsia de busca que impressa o âmago medular do cerne do mais fundo do seu
Eu?
Comê-la? Transformá-la em
papel-titereiro do Teatro de Si?
(e viver com intento propósito de ordenhar pedras e porcos e recolher números para comprar o tempo vendido e
atira-lo na ilha das flores para fertilizar o solo putrefato?)
Não senta de olhos fechados por muitas voltas do mundo
neste banco pardo indiferente, Carlos.
Corres o tremendo risco de escorregar a Lei e cair na potência imanifesta.
Se queres beber metafísica para embriagar os ombros vergados:
Contente-se em deitar e contemplar um todo arco de céu onde deita o sol, até que adormeça o cimento e as lâmpadas de flúor cerrem os lábios.
Se no alvorecer acordares e sorvido o café agre sentires o desejo 'inda vivo a borbulhar as entranhas,
Consuma a natureza da carne ou
cospe sem o crivo confinante do pensar qualquer monólogo insciente do espírito.
(A realidade plausível cai de repente em cima de mim. Ascendo n'ortostase da matéria: que vence a inércia do repouso em berço macio e férreo [sob imagético móbile de conjecturas] para gozar a vida empírica, o tempo presente e as pedras que não tem comigo nenhum parentesco.
Compreendo, em um átimo de vida, que a metafísica é a consequência de estar mal disposto ou
mergulhar por sem saber querer a tangência do tédio e o verbo.
Devoro o quase sem sabor de qualquer coisa açucarada e espio o diálogo profano das mulheres que vagueavam o meu lado sem que as tivesse notado
Sorrio ao tocar com os artelhos o mundo e ser indagada:
- Queres mais chocolate?)