INDULGÊNCIA POÉTICA
Quem dera..
Me sentir liberta daquela sensação de olhar…e já saber.
Das irretocáveis impressões…
Que até o tempo as inveja.
Daquele verso intuitivo que pulsa
Inquieto das lamas invisíveis
Desencarnado em vida morta no só aparente belo
Das belezas funestas,
Das almas submergidas nos breus que jamais conheceram a luz,
Dentre as sombras bailarinas das podridões.
Queria me sentir liberta da voz que me vocifera inaudível
Em verso obrigatório e premente
Delineando vultos que perambulam nos caminhos
Disfarçados de glórias.
Queria sim, a poesia mansa...
Apenas versejar o verso leve,fluido e perfumado
Pronto a espargir apenas dos jardins
Semeados com as genuínas mãos da Justiça.
Quem dera poder desviar do compulsivo caminho
A quem se obriga o poema analógico de prosseguir ileso de Espírito
Em versos brancos mas plenos,
E sem fugir da métrica lógica
A despeito das flechas e dos atos insalubres
De todos os infernos que não são só os de Dante.
Quem dera poder adubar os recém-chegados vasos da vida
Os que nascem ou renascem áridos de auroras…
Sob os sucessivos dias que não chegam nunca;
A neles lançar o morno dum sol que aquece só o necessário,
Na justa medida das essências!
E alimentar a vida com a água límpida das nascentes intactas
(porque nunca foram tocadas pela ambição)
E rebrotar a flor ingênua que nada sabe
Nada viu …e nada sentiu.
E depois aplaudir a flor hercúlea
Que apenas floriu
Majestosamente...
Como tem de ser.
Quem dera…
Me sentir liberta do que não sei,
Embora (e sem querer!) já sabendo de antemão.
Queria me sentir livre
Daquela sensação de enxergar o invisível que pulsa
E tentar fugir do fluxo que ninguém mais vê.
Castigo…
O de sempre versejar o porquê do todo…
Sem nunca declamar os porquês do nada.
Quem dera um dia
A indulgência da poesia
Num verso livre de sentir.
Quem dera o equívoco da inquietude
Ou a sorte da total incompletude
Da minha primeira impressão.