ZONA DO SILÊNCIO

Tudo muito bem aqui no mundo dos mortos,

onde quase todos passam — exceto as horas

que se atrapalham sem ponteiros ou relógios

quando marcam a implacável tirania dos ossos.

Não temos dia e noite, tampouco ocaso e aurora;

o tempo também morreu feito o que há em volta.

O cinza é dominante sobre os escombros tortos

das ruas sem alamedas e das almas sem corpos.

O sol vermelho sanguíneo ultrapassa o céu ocre.

Vejo os becos e as cédulas sujas que se enrolam

— conduzem a poeira por entre as ventas expostas

e não há quem saiba mais o que realmente importa.

Ouço muletas e próteses que se escoram no poste.

Há gemidos invisíveis que não têm sul. Nem norte.