Fumaças

As cinzas banham meu corpo,

Ainda há brasas de um hodierno amor,

E as mantas em chamas cobrem o todo,

Dando cascas fúnebres ao meu pudor...

Minha mente espessa degrada,

Se defasando na imensidão,

Que logo cansa,

Que logo afaga,

Batidas fortes de meu coração.

Eu pensei ser fraca,

Acreditava em tudo menos em mim,

Fiz de minha alma casa,

Me sinto pronta pelas tempestades que estão por vir;

Eu chorei muitas vezes,

Eu fugi do que sou,

Mas é o passado e os erros, os meses,

Tudo isso me tornou:

As lágrimas que escorrem em tua face,

A beleza culpada de tua tristeza,

Um ladrão, de um trovão, que na interface,

Trás caos nas ondas em choque de tua sutileza.

Eu vi a vastidão do mundo,

Eu mergulhei na imensidão de teus olhos,

Caí no escuro, profundo de teu poço,

E pude olhar as estrelas acima de teu entrefolho,

Eu poderia fugir de tua confusão dispersa,

Mas só seria uma voz, um nuance, uma mancha,

Que na ilusão,

Do teu atroz,

Do teu perverso mundo, uma dança.

Lentamente fui açoitada,

Com os chicotes que marcaram o teu mórbido destino,

Fui cuspida,

Fui temida,

E castigada,

Pelos lençóis, de teu punhal de vidro fino;

Mas meu amor não se preocupe,

O sol ah de nascer amanhã,

E as lágrimas, o teu cuspe,

Regará as flores mortas pela manhã.

O barco está furado,

Mas eu ficarei sem me delongar,

E por mais que eu e você morrermos afogados,

Eu permanecerei em pé na superfície desse mar...

Para o eterno Narcótico

de meu miocárdio.

Natália Reis de Assis
Enviado por Natália Reis de Assis em 26/07/2019
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