MÃE-MORTE
Vem de mansinho como antigamente
refazer o meu sono de menino.
Leva-me no teu colo, sem destino,
envolvido em silêncio, indiferente
à marcha rastejante da serpente
(e àquele silvo longo e sibilino).
Apaga o Sol. Manda calar o sino.
Deixa a noite cair pesadamente.
Tu, ó Mãe, que me deste o despertar,
a fúria do querer e que me dás,
ainda agora, o dom de descobrir,
conduz-me até a areia deste mar
que, em turbilhão, os sonhos me desfaz.
Depois, ó Morte, deixa-me dormir.
(11 de Junho de 2003)