MÃE-MORTE

Vem de mansinho como antigamente

refazer o meu sono de menino.

Leva-me no teu colo, sem destino,

envolvido em silêncio, indiferente

à marcha rastejante da serpente

(e àquele silvo longo e sibilino).

Apaga o Sol. Manda calar o sino.

Deixa a noite cair pesadamente.

Tu, ó Mãe, que me deste o despertar,

a fúria do querer e que me dás,

ainda agora, o dom de descobrir,

conduz-me até a areia deste mar

que, em turbilhão, os sonhos me desfaz.

Depois, ó Morte, deixa-me dormir.

(11 de Junho de 2003)

CARLOS DOMINGOS
Enviado por CARLOS DOMINGOS em 03/11/2005
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