Intervalo
E fia o tempo, e finda o tempo, e fui o tempo
Flui entre minhas saudades e o mendigo amor
Que em mim habita.
Esses olhos cheios de desertos e lágrimas secas
Essa olheira de quem dorme pouco e mal
Essa casa que não reconheço
E ainda vejo a lua como um bem ao cego
Minhas pegadas sobre a terra são passageiras
Sou um passageiro que anda em volta de mim
As lembranças são traças na memoria.
E flora o tempo, e embolora o tempo, e rói o tempo
Que em mim transita.
Esses olhos de quem veem as saudades dormirem
Entre um pensamento é outro esquecimento
Olho da janela a rua antiga da infância
Penso: sempre é a hora de partir
Partir de mim, partir daqui, a partir um dia
Não, não há em mim melancolias, passados
O que há em mim é uma vida cicatrizada
Entre outras tantas feridas.
Milton Oliveira
24jul/2019