João Oliva Alves
João, tu eras um cristão maior
Um homem monumento
Um caráter acima de todos os topos de montanhas
João, voando como uma águia agora nos observa, nós, pobres mortais
Nós que sequer conseguimos imitá-lo
João, tu te lembras de mim na casa dos vinte?
Desafiadora e irreverente estudante, eu te disse
Que documentos de coisa alguma valem
Era uma época de terrorismo pelo mundo
O mundo é de terrorismo até hoje, João
Mas a paz morava em sua bengala, em seu sorriso, em sua bondade
E na inteligência do jornalista que me disse
Menina, fica calada, vai que algo acontece e serás suspeita e irás para a cadeia
Sei que não serias capaz de lançar bombas, menina
É, João, eu não sou capaz até hoje de lançar bombas
Que grande covarde sou
Obrigada, João, pois me ensinaste os segredos da correspondência oficial
Quando eu só queria os versos de Maiakovski
Quando eu só queria ouvir cantar o Raul Seixas, o Caetano, a Elis
Mas, João, teu caminhar era poesia
Teu sorriso de lábios finos era verso
Teu corpo era um dístico
Mas tua história, tua alma, teu espírito são odes, epopeias
Esta não é uma elegia de celebrar mortos
É a minha saudade que também é tua presença
João, além de João, Oliva
Oliveira e olivais
Não perguntarei por onde andas ou para onde vais
Se tem um céu
É nele que te encontras, entre os anjos do jornalismo
Entre os Agostinhos, Franciscos e Vieiras intelectuais