Ada, a fada?
Ada, a fada?
Ada era mulher rasteira mesmo quando empinada em alto salto.
Portava-se almejando ser dama, sem fama, só mesmo a do asfalto.
Loira, cabelos cacheados, virava-se ereta, mas seu ferrão espeta;
grunhia ao pobre marido, combalido, em que nada mais ereta.
Punha-se como a estender a mão rugosa para ser beijada, ditosa;
já passara dos oitenta, mas insistia em não ter mais de cinquenta.
Lúcida, pérfida, dessas que ao último suspiro se engasga raivosa;
humilhava o varão abatido em público, com ares de inocente viçosa.
Imaginava fazer qualquer coisa melhor como se fora malabares;
cheia de si, desfilava, sem limites, sua antiga, execrável petulância.
Sua experiência de boa jardinagem, da profundidade de um pires,
era alardeada aos quatro ventos por meio de sua pseudo-elegância.
Certo dia, surge espreitando-se, movida por impetuosa força do mal;
ruma ao jardim, tesoura de poda na mão e pensamentos de estrume;
protagoniza uma devastação nas trepadeiras, de foro certo, irracional;
aniquila o cultivado há anos e, imbecil, deixa seu rastro de perfume.
Ajeita-se, valente, na vassoura desfiada de fina piaçava
e, do alto, num único voleio, cai sobre o monte que fumegava.
Contorce-se como serpente peçonhenta, finalmente abatida,
pois lá jaz Ada, a bruxa que fora fada finamente transvestida.
A verruga com dois pelos, junto do nariz
foge, estarrecida, para longe da meretriz.
Ada nasceu fada, mas perdeu o efe num blefe!