Ao amigo

Amigo, eis-me aqui novamente.

Vou cortar-te,

Profanar-te,

Macular-te,

Desnudar-te.

E tu, meu amigo, que fazes?

Nada;

E é aí que está tua nobreza:

Recebes passivamente

O bisturi e a tesoura,

A pinça e o trocatre

A rasgar a tua carne cansada

Sem nada dizer.

É carne morta, eu sei;

Mas sei também que tu, como eu,

Foste alguém, talvez ninguém.

Mas tu, amigo cadáver,

Bom ou mau, belo ou feio,

Tu foste um Homem!

Poesia escrita quando passei pelo curso de Anatomia da Faculdade de Medicina. Uma homenagem aos cadáveres usados para os estudos, sem os quais seria impossível desvendar os mistérios do Corpo Humano.