IGARAPÉ

Nunca me canso de

Pelas manhãs olhar

Os verdes longínquos

Do igarapé sob a ponte

Sempre que passo

Rápido e silencioso

Admiro um instante

As águas longes cobertas

De verdes plantas novas

Depois da chuva da noite

Começo olhando perto

Depois meus olhos buscam

Distante o contraste do

Céu e das águas frias

Termino entre flores e jazigos

Perdi o rumo

Mas contemplo as coisas

Parado e ausente

Como quem vê tudo

Pela primeira vez

Tudo é apenas um momento

Meus olhos trazem recordações

Que o tempo principia

E que, sozinho, não esqueço

Nada se parece com o chão

Que conheço

Mas

Que o desejo me impede

De senti-lo em suas

Nuances mais simples

Tropeço nessas folhas verdes

Sobre as águas e não

Sei por quanto tempo

Tudo isso se presume

Sigo pelas manhãs e penso

Que o lago é azul, mas

Não, o lago não é azul

Azul é o céu que reflete

No lago todas as manhãs

O lago, na verdade, é escuro

Suas águas trazem a sujeira

Da terra, a sujeira dos homens

A sujeira das coisas do tempo

Somente o céu torna as águas

Azuis... somente o céu

João Barros
Enviado por João Barros em 19/07/2019
Código do texto: T6699516
Classificação de conteúdo: seguro