IGARAPÉ
Nunca me canso de
Pelas manhãs olhar
Os verdes longínquos
Do igarapé sob a ponte
Sempre que passo
Rápido e silencioso
Admiro um instante
As águas longes cobertas
De verdes plantas novas
Depois da chuva da noite
Começo olhando perto
Depois meus olhos buscam
Distante o contraste do
Céu e das águas frias
Termino entre flores e jazigos
Perdi o rumo
Mas contemplo as coisas
Parado e ausente
Como quem vê tudo
Pela primeira vez
Tudo é apenas um momento
Meus olhos trazem recordações
Que o tempo principia
E que, sozinho, não esqueço
Nada se parece com o chão
Que conheço
Mas
Que o desejo me impede
De senti-lo em suas
Nuances mais simples
Tropeço nessas folhas verdes
Sobre as águas e não
Sei por quanto tempo
Tudo isso se presume
Sigo pelas manhãs e penso
Que o lago é azul, mas
Não, o lago não é azul
Azul é o céu que reflete
No lago todas as manhãs
O lago, na verdade, é escuro
Suas águas trazem a sujeira
Da terra, a sujeira dos homens
A sujeira das coisas do tempo
Somente o céu torna as águas
Azuis... somente o céu