A RAPOSA E AS UVAS
O futuro
É o inalcançável instante
Põe-se sempre verde
Para não o colhermos nunca
Está sempre na
Interminável estrada em
Que os passos buscam o
Encontro festivo e o sucesso
Definitivo
O progresso desmente
Nossos olhos
E nutre-nos de um
Infindável sentido de permanência
Perdemos tudo
Mas
Iludimo-nos com as sensações
E o resto das coisas
Que fingimos ter
Sossego oportuno
De tempos vencidos em manhãs
De barulhos indetectáveis
Irreconhecíveis
Que as notícias sacrificam no
Momento definitivo
O agora, previsto, desintegra-se
Como metal inculpável
Em masmorra fúnebre
E adquire o sentido
De inesgotável incredulidade
Falsos devaneios
Irrompem ao acaso
Ilusões de vidas
Plenas e previstas
O futuro é o mar azul
Parreirais de sonhos
Uvas sempre verdes
Para a colheita da impossibilidade
De olhos marejados
E infinitamente silenciosos
Nós, somos o decreto
Da tragédia impura
Que viola o íntimo
Despetalar da noite
Raposas incrustradas na planície
Lagos, continentes e alabastros
Buscando a
Interminável despedida
E a perfeita forma
Os momentos que nos chegam
Cercam-nos e morrem
Em redes imprevistas
Com doses de silêncio e
Murmúrios:
Paisagens
Verdes uvas
Verdes campos
Saudade da antiga casa
Feita de orações e instantes vagos
“as uvas estão verdes”
Diz a raposa
Tristemente...