AS DUAS VELHAS
São duas velhas, lado a lado na cama
Maria duas patas, Maricota quatro patas
Café. leite, pão sem margarina para uma
Ração barata para a outra
Anti-hipertensivo e cálcio para uma
Anticonvulsivo para a outra.
Caminhar é preciso
Caminhada matutina cada vez mais curta
Para a pressão arterial e a osteoporose de uma
Para a obesidade da outra.
Maria e Maricota, duas velhas sem filhos, sem filhotes
Todos partiram, restaram as fotos
Os filhos de uma com os filhotes da outra.
Duas velhas morando em uma casa velha, com móveis velhos
A mesma solidão sem visitas, só lembranças velhas.
Para os apressados cegos vizinhos, apenas duas velhas
Seres invisíveis talvez fantasmas.
Juntas acompanham sem entender
A novela e as notícias na TV preto e branco
Maria lê livros velhos
Maricota escuta ou finge, deitada no tapete velho.
Maricota primeira a levantar de manhã
Estranha manhã.
Maria chama e ela não levanta.
As horas passam, os dias passam
Apressados cegos vizinhos sentem o mau cheiro
Param! Chamam! Arrombam a porta!
Encontram as duas velhas abraçadas
Adormecidas para sempre.