Como uma puta

Um cachorro magro,

cagando exatamente em cima de uma lombada no meio da rua

enquanto essa chuva desaba sem dó.

Dois mendigos

conversando e dividindo uma sagrada lata de aguardente

no canto mais negro da calçada

enquanto os carros tentam enxergar dentro da noite com seus faróis.

Ela na cama e devidamente molhada

gemendo, quase sem emitir som algum

e coberta apenas pelo escuro de nosso quarto.

Isso faz parte do silêncio,

esse silêncio que está sempre ao meu redor

e que me esbofeteia

como a uma puta sem sorte numa noite quente e azarada.

O que me aflige é inteligível.

Pode apenas ser sentido, nada mais.

E sei que isso permanecerá em escuridão e mistério

até que algo desenterre essas velhas e desoladas raízes

e eu, desnudo e finalmente liberto de toda a razão que me resta

veja o meu pobre reflexo estremecer

ao olhar para esse rio

meio turvo, meio cristalino

que corta o meu coração.

O Bêbado
Enviado por O Bêbado em 17/07/2019
Reeditado em 17/07/2019
Código do texto: T6697976
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