TUDO QUE VI, TUDO QUE VEJO
Tudo que vi
no meu pouco tempo
aventurado na rua
Foi um menino pequeno
caindo da bicicleta, quase aos pés
de uma mulher, e ela desviando-se dele
Ela não tinha olhar de desprezo,
mas também não tinha
pena, ou compaixão.
E não o ajudou a levantar.
Ela tinha algo de robótico.
E talvez, mas SÓ talvez:
A sua atenção se transformasse
Em caso de:
A bicicleta atingir o seu pé.
Ou de um raio separar
o corpo de seu filho
[que estava ali brincando
logo em frente ao menino
da bicicletinha]
... em dois pedaços.
Fazendo com que
o sangue espalhasse
pela praça...
espalhando também,
o cheiro forte e terrível
de ferrugem e carne estragada
misturada com merda
e suco gástrico de comida chique
ainda sendo processada,
que se insistia à ser digerida
na barriga, preciosa e querida
Robozinho.
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Tudo o que vi no meu pouco
tempo aventurado, fora dos limites
do meu lar:
Foram caras pintadas
e mascaradas
que imitaram risos.
Risos de atores que
interpretam amigos.
E também um abraço
sincero... Aqui e ali.
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Fechei os olhos e vi
crateras se abrindo nas ruas...
maremotos, terremotos
 
o fim do mundo destruindo
famílias, casas, restaurantes
hotéis de luxo, pensões...
Enquanto o céu escurecia
e todo mundo se ajoelhava
se suicidava, corria ou
... chorava de saudade
da vida que nem vivia.
Fechei os olhos
e quando abri de novo
todo mundo se abraçava
Todo mundo sorria
Todo mundo fodia, todo mundo era
DE VERDADE, alguma coisa.
No moribundo mundo
Lugar pra mentir...
não mais havia.
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Voltei a mim no mundo real
de volta ali e aquilo do mesmo
que sempre, vejo... e que vi.
Olhei em volta, respirei
senti uma coisa bizarra no ar
senti que não havia mais...
MERECIMENTO,
no mundo.