TUDO QUE VI, TUDO QUE VEJO

Tudo que vi

no meu pouco tempo

aventurado na rua

Foi um menino pequeno

caindo da bicicleta, quase aos pés

de uma mulher, e ela desviando-se dele

Ela não tinha olhar de desprezo,

mas também não tinha

pena, ou compaixão.

E não o ajudou a levantar.

Ela tinha algo de robótico.

E talvez, mas SÓ talvez:

A sua atenção se transformasse

Em caso de:

A bicicleta atingir o seu pé.

Ou de um raio separar

o corpo de seu filho

[que estava ali brincando

logo em frente ao menino

da bicicletinha]

... em dois pedaços.

Fazendo com que

o sangue espalhasse

pela praça...

espalhando também,

o cheiro forte e terrível

de ferrugem e carne estragada

misturada com merda

e suco gástrico de comida chique

ainda sendo processada,

que se insistia à ser digerida

na barriga, preciosa e querida

Robozinho.

******

Tudo o que vi no meu pouco

tempo aventurado, fora dos limites

do meu lar:

Foram caras pintadas

e mascaradas

que imitaram risos.

Risos de atores que

interpretam amigos.

E também um abraço

sincero... Aqui e ali.

******

Fechei os olhos e vi

crateras se abrindo nas ruas...

maremotos, terremotos

 

o fim do mundo destruindo

famílias, casas, restaurantes

hotéis de luxo, pensões...

Enquanto o céu escurecia

e todo mundo se ajoelhava

se suicidava, corria ou

... chorava de saudade

da vida que nem vivia.

Fechei os olhos

e quando abri de novo

todo mundo se abraçava

Todo mundo sorria

Todo mundo fodia, todo mundo era

DE VERDADE, alguma coisa.

No moribundo mundo

Lugar pra mentir...

não mais havia.

******

Voltei a mim no mundo real

de volta ali e aquilo do mesmo

que sempre, vejo... e que vi.

Olhei em volta, respirei

senti uma coisa bizarra no ar

senti que não havia mais...

MERECIMENTO,

no mundo.