inominadas

Inominadas

do livro "marés

Casinhas sem nome...

Apenas a cadeira vazia,

Treliças rasgadas

Embalando saudade

D’outros dias...

O sol que inda arde

Na enxadada tardia...

A enxada descansa o fio

Escorada na parede nua,

Ornada com o pé

De trepadeira seca

Pedindo poda e água,

O podador desistido

Foi-se a procurar serviço

De melhor paga...

Casinha sem nome,

Na ausência presente,

O resignado ir-se embora

Tentar vaga sem trelho

Nos edifícios a meio feitos,

Inda vazios de paredes,

Entregues ao nu dos pilares,

Ouvindo os ventos nos ares

Assobiando suas bases

De escravatura forçada...

Melhor seria voltar

A plantar-se onde se nasce

E que a enxada replanta

À espera da germinação

Das batatas novas...

Casinha sem nomes,

Pessoas sem nomes,

A peia se alonga

E cola cal e cimento

Nos sapatos e nos rostos

E nas camisas rotas...

Mas a casinha espera

Com suas goteiras

E fuligens e picumãs

Que inda volte arrojado

O senhor das eiras,

No demanhã...

sergiodonadio

sergio donadio
Enviado por sergio donadio em 15/07/2019
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