BORRACHA

acho que a beleza da poesia

da vida, das coisas todas que estão por aí

vem do esquecimento

de um fragmento que se perde

e nos deixa à solta, figuras atônitas

tentando desvendar os mistérios

dessa miséria vã

acho também que a grandeza desse ato

só não é maior que as lembranças

que são longos tapetes escuros

por onde depois desfilarão as memórias

recuperadas

acho mais, que a atmosfera que permanece

como o vulto de um fantasma

é a forma mais sincera de nossas projeções

cujo conteúdo retroalimenta

essa intermitência entre o lápis e a borracha