ENTERRANDO MEUS MORTOS (a Aline Sousa)
ENTERRANDO MEUS MORTOS
A Aline Souza
A sombra que persegue A. S.
“quando não tivermos
mais nenhum desejo
ficaremos juntos
onde estiver Deus”
– Lêdo Ivo (o fruto dos corpos) –
Pego a pá lentamente
a terra voa...
num balé mágico
sinto-me frenético
os torrões batem na madeira
não sei porque faço
apenas rebolo a terra
a poeira se entranha
na calamidade de minhas veias
agora...
a pá treme em minhas mãos!
Não encaro as faces
(quantas faces decreptas!)
mas permaneço empunhado
a misturar-me com à terra
não importa os que me rodeiam
recolho todos os meus mortos
e levo-os em meu alforje
(alforje de meus alfarrábios santos)
jogo terra lentamente
misturando os moribundos ao cosmo
esqueçam-me...
esqueçam dos mortos!?!
Eles ficarão sob sete palmos
abaixo de minha mente frágil
fiquem por lá...
a se estrebucharem no caixão
juntamente com teus vermes
ainda soterro meus mortos.