SOBRE PRINCIPIO E FIM
Eu nunca fui senão o começo de tudo o que imaginei
E o rosto que me persegue era só a imagem dela em mim
Densamente fria como música tocada longe
Gostava do simples sem saber que simples mesmo era ser sozinho
Porque quando o mundo está do lado é difícil dizer não
Mesmo que um não necessário
O gosto da água era o mesmo, mas eu já não sei qual era
Talvez o tempo me ensine a estar de novo longe do que me aprisiona
A poesia que me acorda à noite
É o rascunho de um sonho bom que eu nunca mais sonhei
Afinal, ela me proibiu de sonhar com ela
Ao falar de mim eu falo de outros
E essa talvez seja a melhor das atitudes a tomar
Porque tira da lama o que também é lama
E devolve ao mundo sua melhor parte
Depois de tantos encontros já não parece casual
Embora ela ainda tenha aquele mesmo vestido sem flores
Coisas do vento essa espera de manhã
Um sorriso impede qualquer vã tristeza
Ou basta que as almas deixem de pensar em seus antigos lares
A casa da noite é a própria noite
Nas portas do mundo ela sempre chega à mesma hora
Logo depois que o sol se vai
Falando dela eu falo de mim
Essa talvez seja a pior de todas as coisas
É admitir que eu não sei ser só sem ser com ela
É confirmar a verdade que meus olhos mentem
Eu nunca fui senão o fim de tudo o que ela em mim sonhou.