SOBRE PRINCIPIO E FIM

Eu nunca fui senão o começo de tudo o que imaginei

E o rosto que me persegue era só a imagem dela em mim

Densamente fria como música tocada longe

Gostava do simples sem saber que simples mesmo era ser sozinho

Porque quando o mundo está do lado é difícil dizer não

Mesmo que um não necessário

O gosto da água era o mesmo, mas eu já não sei qual era

Talvez o tempo me ensine a estar de novo longe do que me aprisiona

A poesia que me acorda à noite

É o rascunho de um sonho bom que eu nunca mais sonhei

Afinal, ela me proibiu de sonhar com ela

Ao falar de mim eu falo de outros

E essa talvez seja a melhor das atitudes a tomar

Porque tira da lama o que também é lama

E devolve ao mundo sua melhor parte

Depois de tantos encontros já não parece casual

Embora ela ainda tenha aquele mesmo vestido sem flores

Coisas do vento essa espera de manhã

Um sorriso impede qualquer vã tristeza

Ou basta que as almas deixem de pensar em seus antigos lares

A casa da noite é a própria noite

Nas portas do mundo ela sempre chega à mesma hora

Logo depois que o sol se vai

Falando dela eu falo de mim

Essa talvez seja a pior de todas as coisas

É admitir que eu não sei ser só sem ser com ela

É confirmar a verdade que meus olhos mentem

Eu nunca fui senão o fim de tudo o que ela em mim sonhou.

João Barros
Enviado por João Barros em 12/07/2019
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