Uma vez, uma rosa
Notei uma rosa largada
No longo caminho de casa
Ao lado de alguém sozinho
Sentados no chão da calçada
Na rua, o vento zunindo
Dos carros velozes passando
Correndo, fugindo, buscando
Saírem do seu labirinto
No espaço, o sol ia gritando
No instante em que se dissipava
Ao passo que a nuvem mais negra
Do alto, nos ameaçava
O rosto entre mãos encrespadas
Calçado com rotos sapatos
A calça com listras rasgada
Um chapéu, onde há uns trocados
Mas quem poderia ter dado
A ele a rosa encarnada
A qual, de tão inusitada,
Traria emoções do passado?
Que bomba o teria implodido?
Seria palavra ou ato
Teria, então, ele esquecido?
Seria um sonho ou um fato
Que o havia, afinal, destruído?
Um vento soprou meu enfoque
Meus olhos fecharam ardendo
Percebi o ardor fenecendo
Sentindo o frescor do seu toque
Parei sem saber, sem pensar
Co´as idéias pairando além
E fiquei simplesmente a olhar
Quando ele me fitou também!
E, mudo, com o corpo gritava!
Punindo com olhos febris
Cansados, mas algo infantis
Num choro que não controlava!
Pensei, então, dar-lhe dinheiro
Uma pena que não podia!
Pensei, depois, em abraçá-lo
Mas eis que não pude, tampouco
Apanhei a rosa do chão
E a prendi fechando sua mão
Olhando no fundo dos olhos
Raivosos, medonhos, vermelhos
Sentindo em meus olhos também
O choro que dele comprei
Mas, eis que me ergui de repente
E fazendo com o corpo uma curva
Parti impetuosamente
Sentindo as gotas de chuva
E a pele se fez congelada
No peito explodindo dormente
Tanta dor a troco de nada?!
“Por quê?!”, perguntei finalmente
D.S.