Suspiro
Este instante é todo o tempo que me resta
E tua mão é tudo que me prende ao mundo
Pois eis que o tempo finalmente se esgota
E este suspiro pode ser também o último
O teu olhar é todo o sol que me interessa
E tua lágrima é o orvalho que me esfria
A tua boca que me fala desconexa
E que me força a respirar tocando a minha
Pois no meu peito há uma bomba que já pára
Já tão cansada das desilusões da vida
Mas a tua aura se reflete em mim tão clara
Que minha pele, no escuro, quase brilha
Os teus cabelos ainda pingam no meu peito
E um frio intenso me congela até os ossos
Quando o remorso se transforma em vasto leito
A carregar-me para a dimensão dos mortos
Vejo que gritas e me socas quando choras
Então, percebo que esse amor desconhecia
Que só colhia tuas flores quase mortas
Mas já não via o jardim que em ti floria
E eis que me somo às tuas preces para o alto
E é do teu hálito que trago o meu suspiro
Pois só agora, assim, envolto nos teus braços
Percebo seres mais que o ar que, enfim, respiro.
D.S.