Ressuscitar

Ressuscitar

Deixou o armário para dar uma voltinha;

foi apenas para tomar um ar.

Já ansioso, precisava retornar,

muito antes da tardinha.

O armário lhe fora inconsciente,

acostumara-se a ele;

Tal qual uma segunda pele,

em que tudo parecia coerente.

Havia-o comprado

para nele habitar?

Ou precisava apenas se alegrar

ao saber que tinha errado?

Ao passear, viu outros armários,

aproximou-se para ver sua escuridão.

Sentiu pavor de uma nova prisão,

dos que acenavam abertos e contrários

De repente, percebeu-se por inteiro,

a não mais precisava retornar

ao armário do qual fizera um lar

que, agora, seria esquecido no canteiro.

Os novos ares pareciam-lhe traidores;

como reiniciar uma vida na liberdade

sussurrada secretamente pela fidelidade,

sem precisar temer os outros amores?

Ficara apenas a memória das mágoas e do machucado

e deu-se conta de que estava ressuscitado.