PASSAGEIROS DO PASSO
Sei bem dos galos pardos
que cantam no meu terreiro.
Por morar perto do mar,
o canto deles possui algo
dos ventos de Netuno
e – algures – o crucial cântico marinho
dos lobos nas infernais invernias.
Vamos ver como estão os meus
ouvidos de velho marinheiro.
Por vezes, a surdez não me falta
e tampouco os tímpanos aguçados
nos conluios da madrugada.
O outono dos cabelos em desalinho
ao sopro do vento sul, o gaivotear
entre o vinho tinto e o bafejo das dunas,
o volúvel sopro de viver tudo a cada dia.
– Do livro inédito A VERTENTE INSENSATA, 2017/19.
https://www.recantodasletras.com.br/poesias/6691291