TRÊS FINGIMENTOS
I.
Posto sob a tarde feito freezer e o seu sol laranja escondido.
Azuis e beges e ocres não disputam o espaço distribuído
entre o metal sutil da esfera e o bico insatisfeito do destino.
Mergulho no lençol do verso. Ligo o rádio AM. E desligo
o silêncio do domingo. Finjo que sou flor, mas sou espinho.
II.
Posto no banco desbotado da varanda, bebo do chá gelado
do vento; baunilhas, cravos, carvões, cloros, ervas e alhos,
onde todos invadem as papilas de um poema que não nasce
no sabor finito dos poetas falsos e suas falsas propriedades
presas na parede lisa. Finjo que sou mar, mas sou maresia.
III.
Posto no visgo voluntário da grade, vejo a menina na calçada
de sandálias. Sinto os verdes variados do morro que disfarça
o concreto de baixo. E o amanhã não começa jamais… Paira
na guilhotina do ocaso um lilás arroxeado das horas paradas
da linha brilhante. Finjo que sou próximo, mas sou distante.