A POESIA DORME

A poesia dorme

Bela adormecida no verde que se espalha

sobre o relevo

nas ondulações dos montes

no vale

nos bois pastando

no córrego

numa casa de marimbondos

dorme neném

A poesia dorme

nas moitas

nas sombras se avolumando

por baixo das copas das mangueiras

na aragem

no vento

no rio pedra

nos raios de sol

iluminando golfos

A poesia dorme

nas cinzas do fogão em um casebre

nas cancelas gemedeiras

nas santacruzes engalanadas

entre fitas e fitilhos

nos cabelos revoltos

de uma menina

dorme neném

A poesia descansa

sobre os patos

sobre os lagos

no regaço da terra

e sobre o presságio das estradas

dorme neném

A poesia dorme serena

nos olhos da morena

A poesia dorme em paz

nos braços do rapaz

A poesia dorme sossegada

nos lábios da amada

Dorme poesia

6 de junho de 2004