DIVAGANDO

Baila no ar uma poeira de cor lilás
o éter tem o aroma de jasmim
colhido rente ao canteiro do jardim
uma brisa traz o perfume pra perto de mim
me delicio com a delicada fragrância
há nela uma lembrança
dos tempos idos de minha infância

Olho para o céu e contemplo
uma lua enigmática cobre-se
com um véu cor de estanho
sinto-me próxima da lua
sempre me senti,
desde minha meninice
nela nada há que eu ache estranho

O frio me faz companhia
bem ali, no peitoril da janela
onde vislumbro o universo
nesse instante, escrevo um verso
enquanto o ar gelado e a umidade
me abraçam, por fora
minha essência, na poesia se agasalha

Com emoção reflito:
"A vida é um mistério bendito"
e me interrogo, por que será que dentre tantos
que passam pelo meu caminho
a maioria não deixa sequer uma marca
são como se nunca tivessem existido
mais intrigante ainda, é constatar que
só alguns, muito poucos, mesmo morrendo
nunca são por mim esquecidos, e marcam
de maneira profunda e doce o meu coração?

De repente, uma lembrança
me (re)conecta a alguém
tão presente em minha saudade
cuja voz tinha a doçura do chocolate
pouco antes de no céu da boca derreter
e o sorriso, de um lago, onde o poente
estava sempre pronto a acontecer

Volto a sentir o frio outonal
enquanto lembro a mim mesma
que me é impossível reter entre as mãos
a água do mar, ou consertar a lua no céu
só posso guardar nas dobras da alma
todo amor e felicidade que me traz calma



Imagem: Lenapena (Giverny, jardins de Monet)
Lenapena
Enviado por Lenapena em 04/07/2019
Reeditado em 04/07/2019
Código do texto: T6688046
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