Despenco
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"...Resvalando em abismos um pôr do sol furioso
Que a sensação de perda ao ver exagera
É o desespero vermelho de um apocalipse luminoso
Ejaculado da velocidade terrível da queda..."
(Lobão)
Deito no ar sem medo do precipício
fico perdida em loas, canções e gozo
levo tudo e mais um pouco e volto ao início
onde o beijo começa no meio pantanoso
ando nua como as índias da Amazônia
vivo de brisa, corro mundo, sou inteira
me viro, reviro, reparto penas com a insônia
e alço o vôo das aves de cordilheira
pulo, despenco, fico leve e, atônita, plano
incivilizada num céu de anil festeiro
com asas puras espelhadas no oceano
da minha alma de despenhadeiro
me solto à vertigem desse fuso, confuso, parafuso
estou aberta à queda pairando ao tombo
ao sopro do vento norte, enluarada, me reconduzo
aos ocasos onde o grito eu ribombo
antes de fechar as asas e cair
vendo o chão se aproximar no retumbo do sismo
com as flores cada vez maiores a florir
exalando o seu perfume ao gozo do abismo.
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