COLO INFERNAL
Hoje trago um coração cabisbaixo,
de sangue triste, de voz vadia,
coração opaco, oco, remediado,
infeliz por dentro e por fora.
Nesse coração sem sombra,
traçando voos órfãos,
me percebo hibernado em mim mesmo,
envelhecido bem além da conta,
coração sem dono, sem colo, sem matriz.
Hoje estou desfalcado de alma,
arrebatado por vontades mancas,
repleto de cores nubladas,
cumprindo passos esquisitos,
criatura morta-viva eterna.
Sei que esse lodo vai embora,
sei que meu bolor um dia se cansa,
sei que essa dor logo se despede e segue,
sei que os ventos farão faxina no meu chão.
Enquanto isso, fico num banho-maria atroz,
fico jogado num bueiro sem perdão,
fico reinando num encarde fétido,
fico acalentado num colo infernal.