TERMINAL
A dor de tão intolerável
é insondável.
É pantanoso padecer dela
e penoso entender
sua impotência.
Envelhece-se na existência
como quem patina
em pedregulhos.
Insuflada como toda
uma dimensão
a ser explorada.
Estou esgotado,
não disponho de tempo
nem paciência
para cotejos.
O tempo urge e a vida
deve ser lida
como páginas,
viradas com rapidez.
Estou sem orientação,
a aproximação de alguém
é válido e suportável.
Sendo realista,
parece não haver
mais jeito,
sou um ser diferente.
Não suporto
a pachorra da morte!
Abstraio-me
dos aspectos práticos,
quase incontroláveis.
Aguardo
um reconhecimento,
as diferenças
que deveriam ser levadas
em conta.
Os lampejos, os deslizes,
as evasivas,
os extravasamentos,
as extravagâncias,
os circulóquios.
Há também, os atalhos,
as retas que encurtam
meandros;
os excessos de concisão;
os requintes;
as substituições
deliberadas;
as decisões malsucedidas.
Não, não se sabe
se haverá tempo
para tanto!
p.s.: poema feito em homenagem à uma amiga levada pelo câncer em 2006.