A APARIÇÃO

A Grande Geladeira posou em frente à praça cheia. E as Bailarinas que Vestiam Azul, pararam de dançar e se olharam preocupadas com o que poderia acontecer com as crianças inocentes. As Crianças Inocentes brincavam de escorregar pelos telhados dos casarões antigos... caindo de bunda no asfalto recém-moldado. Elas não se machucavam, pois possuíam asas, que um arcanjo lhes deu de presente. O Poeta tentava criar uma espécie de “Ode ao Amor Definitivo”, quando escutou o barulho alto que A Grande Geladeira emitiu ao posar, levantando poeira e encaixando-se numa vaga do estacionamento. As Mocinhas Assanhadas e os Rapazes Assanhados (e aqueles que não queriam definições) cantavam sons de MPB e Bossa Nova e ainda que impressionados frente à aparição, continuaram a berrar aquelas tais “Canções do Amor Demais”, numa vã tentativa de conter a ansiedade tremenda. Tomavam grandes goladas de caipirinha, misturadas com medicações e frutas... Frutas que existem apenas no inferno... Ou no núcleo de vulcões adormecidos. As Crianças Inocentes patinavam em azulejos e em cima delas (e APENAS em cima delas), caía uma neve... Que no entanto era morna e feita de água de coco. O sol brilhava pros restantes... As Bailarinas flutuavam a poucos centímetros do chão, fazendo movimentos graciosos ao som de uma valsa de Strauss, que apenas ELAS conseguiam ouvir. O fato é que talvez A Grande Geladeira nem mesmo tenha existido... e ao mesmo tempo que um grito de horror brotava dos peitos ansiosos daquelas seres dali; esse mesmo grito era seguido de um suspiro aliviado... Que também era seguido de um muxoxo de descaso... Junto a uma cuspidela no chão... Junto de muito de tédio, medo, alegria, esperança, ódio... Diante de uma coisa que podia ser uma nave ou apenas uma geladeira comum. Podia ser a representação do Fim do Mundo, o início de uma Nova Ordem Mundial... Perante aquele divertimento... Perante aquela rua... Perante um Deus enfurecido... Assim como, podia ser apenas; uma maçã.