Melódico

Silencio a assombração

De todo o barulho

Que ouço inevitavelmente

Com música em seu

Mais intenso volume.

Alto o suficiente

Para não ouvir

Minha própria voz

Dizendo-me que devo

Imediatamente parar

Para o meu próprio bem.

Talvez uma tentativa

Para ensurdecer

Meus protestos,

Um jeito de fazer

Com que eu finalmente

Possa fingir uma paz

Que me convença

Da veracidade do

Meu conto de fadas.

Grandiosas obras

Requintadas pelo tempo

Opera cada movimento

Em que minh’alma

Desloca-se em

Belos passos de dança

A mais infame tragédia.

Relembrando-me que

Não há de se esconder

E não há de se envergonhar

Em sentir e não ser capaz

De expressar, somente

Poder dançar conforme

A música me diz e ordena.

Imaginando-me como

Um ator pelos cenários

De um clipe musical

Em que voluntariamente

Decidi nunca pôr um fim,

Eventualmente mudando de

Personagem e artista.

Sempre na fantasia

Moldada por

Algemas de melodias,

Respirando e vivendo

Em antecipação

Para a próxima

Projetada harmonia.

Fundindo em sintonia

Meu canto com

As frases proferidas

Com fôlego e fogo,

Tornando-se um só

Conceito mediante

Todo o resto

Despido de sentido.

Pois sou a desafinação,

Ferindo e almejando

A impalpável perfeição

Que me amaldiçoa

A continuar orquestrando

Sem senso de controle

Os instrumentos que tocam

A minha lamentação.

E acabam suas notas

No ápice de seu crescendo,

Numa tonalidade fúnebre

De um prelúdio que

Serviu a nenhum

Grande propósito além

De tristes melodias

A uma ferida poesia.

Daniel Yukon
Enviado por Daniel Yukon em 25/06/2019
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