Melódico
Silencio a assombração
De todo o barulho
Que ouço inevitavelmente
Com música em seu
Mais intenso volume.
Alto o suficiente
Para não ouvir
Minha própria voz
Dizendo-me que devo
Imediatamente parar
Para o meu próprio bem.
Talvez uma tentativa
Para ensurdecer
Meus protestos,
Um jeito de fazer
Com que eu finalmente
Possa fingir uma paz
Que me convença
Da veracidade do
Meu conto de fadas.
Grandiosas obras
Requintadas pelo tempo
Opera cada movimento
Em que minh’alma
Desloca-se em
Belos passos de dança
A mais infame tragédia.
Relembrando-me que
Não há de se esconder
E não há de se envergonhar
Em sentir e não ser capaz
De expressar, somente
Poder dançar conforme
A música me diz e ordena.
Imaginando-me como
Um ator pelos cenários
De um clipe musical
Em que voluntariamente
Decidi nunca pôr um fim,
Eventualmente mudando de
Personagem e artista.
Sempre na fantasia
Moldada por
Algemas de melodias,
Respirando e vivendo
Em antecipação
Para a próxima
Projetada harmonia.
Fundindo em sintonia
Meu canto com
As frases proferidas
Com fôlego e fogo,
Tornando-se um só
Conceito mediante
Todo o resto
Despido de sentido.
Pois sou a desafinação,
Ferindo e almejando
A impalpável perfeição
Que me amaldiçoa
A continuar orquestrando
Sem senso de controle
Os instrumentos que tocam
A minha lamentação.
E acabam suas notas
No ápice de seu crescendo,
Numa tonalidade fúnebre
De um prelúdio que
Serviu a nenhum
Grande propósito além
De tristes melodias
A uma ferida poesia.