TRÊS PARTES
I.
Há um colar perolado pendurado no céu cinza
grafite escuro da manhã no meio da sala vazia.
Ele divide o espaço e delimita o verso brilhante.
O vento salga os nacos de nuvens que cintilam
ali no além:: sou metade poeta. E a outra também.
II.
Prefiro submeter à palavra a tradução da sua senha
e atravessar pontes… E saltar sobre os cacos do fonema.
Edificar-se na contradição imagética que o conecta
à próxima página aberta. Estou numa sala de espera
ali sem amém: sou metade às avessas. E a outra também.
III.
A minha mente sorrateira deita no azul aço da tarde;
é tão belo que espalha o laranja lá de baixo dourado
na coxia da encosta, onde preparo um poema calado.
O que interessa é achar a poesia, mas ela não tem casa
nem ninguém: sou metade que se foda. E a outra também.