BATIDAS NA PORTA
Batem à porta.
Será o pálido crepúsculo de inverno,
derradeiro caixeiro a mercadejar
sentimentalismos enciclopédicos?
Não abrirei.
Batem à porta.
Serão testemunhas de Jeová,
aristotélicos sem rumo, soldados em desuso
a remexer esperanças superadas?
Não abrirei.
Batem à porta.
Será a juventude que desejei ainda ontem
seminua, no feed do Instagram,
os ventos teimosos de agosto?
Não abrirei.
Batem à porta.
Será o encanador que ainda não veio
arrumar a pia da cozinha,
o oficial da parcial justiça me sequestrar tranquilidades?
Não abrirei.
Ficarei no sofá: estático,
a tv emudecida,
rogando que cessem as batidas
e minha vontade de abrir esta maldita porta.