CORDEIROS PARA O ABATE

Como numa corrida sem fim

Aditivados com rebites psicológicos

Ensaiados e entorpecidos

Por palavras de ordem e frases de efeito

Treinamentos e programações

Castrações e apostilas

Sempre em frente em direção ao moedor

Muito suor e sangue derramado

Muito sono sacrificado

Pouca valia, quilos de anomalia

Pão pisado e marmita azeda

Compensadas pelo “desafio"

Os fortes se auto-motivam?

E os fracos se retiram...

“Sem dor não há ganho”

Então já estamos no pódio!

Querem você pra crescer junto

Comprometimento é a chave

Como o cavalo da fazenda de porcos de Orwell

Todo trabalho nunca é o bastante

Sem questionamentos não há decepções

Sem obediência não há recompensa

Acredite, todos podem

Basta ceder

Um pouco a cada dia, uma gota a cada fôlego

Copos furados nunca transbordam

E a saída é só uma entrada diferente

O preço não é caro se você aceita

Cofres e túmulos possuem a mesma forma

Pra que todos caibam neles

Escolha seu vício e sua vocação

Financie o primeiro com a aplicação da segunda

E se sirva dos ossos de sobremesa

Reclamações ficam na caixinha pra posterior análise

E respostas post-mortem

A agulha só dói na entrada

O soro escorre e cura

Anestesia é um ponto de vista

Do pior cego que é o que enxerga

E tropeça no próprio pé...

Primeiro ele engole a cruz

Depois participa do retrato pendurado na sala

Logo adiante já está bem alimentado

Pronto pro estágio das carteiras e assinaturas

Sua carne já está se amaciando

Depois com o anel e os canudos a consagração chega

O faquir e ele agora são o mesmo

Tosquiado e liberto ele avança

Na esteira infinita das crianças mascaradas

Seus ossos serão seu legado pro infinito

Sua vontade será obliterada

E ele agradecerá

Com um sorriso e uma ajeitada na gravata.

Caio Braga
Enviado por Caio Braga em 18/06/2019
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