Há sempre um lugar miserável pra quem gesta o silêncio.
Amarrada às salas obscuras, ao cimo do sangue, a inércia da palavra é morte.
Morte dos lábios, morte dos dedos, morte do espírito.
 
É outono. As cidades se enchem de vultos ao leme das hibernações.
É outono dos grandes flagelos do mundo - corpos se desviam aos sorrisos amarelos contra os dentes, com a soberba fechada ao barro fragmentado. Pouco se enxergam, pouco se compadecem com o movimento violento das águas às paredes internas.
 
É outono sombrio, de pedras afundadas no pensamento e folhas naufragadas ao chão. Estão mortas. Estão todas mortas.
Porém, a matéria orgânica do meu silêncio consegue estar ainda mais morta.
 
A folha segue o curso da existência, se desnuda e se estende, e na grandeza de sua humildade de folha, se entrega ao solo em doação solene à transformação - alimento que agora à terra é cúmplice da vida.
 
Enquanto esses martelos dentro da cabeça não tardam em me cobrar os desvios, os desvãos, os medos. Mostrando que o maior dos erros em se respirar morte em vida, é tornar moribundo um fulgor que não nasceu à berma de nenhum chão .

 





 
DENISE MATOS
Enviado por DENISE MATOS em 17/06/2019
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