Pousem os lápis

levanta os olhos 
como uma longa carta de amor 
olho você e preferiria olhar você 
a qualquer foto cúmplice a dividir memórias 
todas ficam tão sem rosto 
que corro o risco de me apaixonar por você... 
a alma quer pular pela garganta 
as mãos se afogam 
como um damasco amassado e pisoteado 
para sua próxima vida 
o chão não apaga o barulho 
cantando distante como uma cotovia 
as palavras perdem os seus objetivos de vista 
a vida vira hóspede de seus olhos 
(vão ao mesmo alfaiate) 
contando números primos na mão 
em parte porque do centro da minha vida 
surgi um garoto dos ossos grandes 
pés descalços da grama recém cortada dos caminhos 
comendo o chão desse lugar 
rompendo o silencio 
permitindo que as palavras flutuem 
libertando o lápis a pronunciar afirmações sobre o papel: 
-eu sou o amor, mas também sou o papel 
como metade das palavras e depois 
passo a madrugada inteira dormindo no resto. 
como uma árvore respirando... 
 
Vania Lopez
Enviado por Vania Lopez em 17/06/2019
Código do texto: T6675204
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