GRAXA
Estou sem nada agora. Me deixei todo em você
por dentro e por fora; quase tudo na verdade
(não há coisa alguma que seja cem por cento)
morto por entre a casa nos rodapés dos ratos.
Estou sem nada. Com você eu não economizei
no corpo ou na alma. Fui seu lanche de oferta
e não o jantar que imaginava. Fui mais e menos
do que você esperava: um poema sem um verso.
A manhã é algodão sujo sobre o frio dos ponteiros
e paira ao redor do vento um certo estado de prata
quase incólume, quase parado. A poesia é devaneio
muito ligeiro; esteve mas não esteve. Há mas não há.
Bem sei que você já me lavou da sua engrenagem...
Ainda vago esvaziado. Nesse vácuo. Estou sem nada.