Uma Pedra No Meio Do Caminho
Minha avó materna já octogenária
Doente quase já não saia da cama
Enfrentava situação muito precária
Próximo ao apagar da velha chama
Minha mãe com seus dez rebentos
E de cuidar da mãe a incumbência
Além de fornecê-la os provimentos
Havia de suprir-lhe toda a carência
Na minha primeira década de vida
Incumbiram-me de levar o almoço
Que correndo ia cumprir a tal lida
Só depois da pirraça e do alvoroço
E descalço pela rua de chão batido
Levava o rango da moribunda avó
Aos solavancos que faziam mexido
Do prato da velha já frio de dar dó
Em certa pedra sempre tropeçava
Gritava de dor e mais impropérios
A ponta do dedo sempre lá ficava
Era um destes estranhos mistérios
Porém armado de ripa pontiaguda
Eu decidi que não ia mais tropeçar
Abandonei a marmita e sem ajuda
O chão da pedra pus-me a escavar
Ao dar por mim abrira uma cratera
Bem no meio daquela tão bela rua
E a minha avó do almoço à espera
Que por pouco chegava com a lua
Na vida afora outras pedras removi
Foram degraus da minha ascensão
Aos tropeços e xingamentos venci
Trago a vovozinha no meu coração.