Uma Pedra No Meio Do Caminho

Minha avó materna já octogenária

Doente quase já não saia da cama

Enfrentava situação muito precária

Próximo ao apagar da velha chama

Minha mãe com seus dez rebentos

E de cuidar da mãe a incumbência

Além de fornecê-la os provimentos

Havia de suprir-lhe toda a carência

Na minha primeira década de vida

Incumbiram-me de levar o almoço

Que correndo ia cumprir a tal lida

Só depois da pirraça e do alvoroço

E descalço pela rua de chão batido

Levava o rango da moribunda avó

Aos solavancos que faziam mexido

Do prato da velha já frio de dar dó

Em certa pedra sempre tropeçava

Gritava de dor e mais impropérios

A ponta do dedo sempre lá ficava

Era um destes estranhos mistérios

Porém armado de ripa pontiaguda

Eu decidi que não ia mais tropeçar

Abandonei a marmita e sem ajuda

O chão da pedra pus-me a escavar

Ao dar por mim abrira uma cratera

Bem no meio daquela tão bela rua

E a minha avó do almoço à espera

Que por pouco chegava com a lua

Na vida afora outras pedras removi

Foram degraus da minha ascensão

Aos tropeços e xingamentos venci

Trago a vovozinha no meu coração.

marciusantos
Enviado por marciusantos em 13/06/2019
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